Resenha: Flores Partidas - Karin Slaughter



"Irmãs. Estranhas. Sobreviventes.  Quando Lydia contou para a irmã que o cunhado havia tentado estuprá-la, Claire não acreditou. Dezoito anos depois, porém, tudo o que Claire achava saber sobre o marido se prova uma mentira. Quando vídeos escondidos no computador de Paul mostram uma face terrível do homem que ela julgava conhecer, Claire percebe que o drama de sua família tem muitas camadas, que precisarão ser descobertas antes que a assustadora verdade por fim venha à tona." Autora: Karin Slaughter | ISBN-13: 9788595081628 | Ano: 2017 / Páginas: 400 | Idioma: português | Editora: HarperCollins Brasil | Encontre AQUI



Falei inúmeras vezes aqui sobre o quanto eu gosto dos livros deste gênero, e a cada oportunidade de ler algo que realmente surpreenda e dê um nó na minha mente, estou aceitando. Não tinha lido nada da autora e tenho certeza que comecei da melhor forma possível. Agradeço a editora HarperCollins Brasil, por ter enviado este livro junto a um belo kit, foi uma oportunidade maravilhosa. Uma pena eu não ter conseguido ir para a Bienal, e participar do bate-papo com a autora.

Antes mesmo de começar a ler o livro, vi um tópico no Facebook onde o autor e as pessoas que comentavam elogiavam bastante a escrita da autora. Já muito curiosa, comecei rapidamente a leitura e realmente era um excelente livro. A maioria dos livros que li do gênero, foram escritos por homens, e perceber que um dos melhores que li fora escrito por uma mulher, é excelente. É nítido como a autora precisou sair da caixinha para escrever algo assim. Não é uma leitura leve, não é algo para ler para passar o tempo, ou para sair de uma ressaca. É uma narrativa para degustar, ler com calma e apreciar cada linha. 

Em Flores Partidas temos duas protagonistas bem diferentes, mas muito iguais. São duas irmãs que tiveram suas vidas mudadas depois de uma tragédia e que ainda se separaram depois de outros acontecimentos. Lydia e Claire tinham uma terceira irmã, a Júlia que desapareceu misteriosamente. Seu sumiço afetou toda a família, o pai, depois de muita procura, comete suicídio. A mãe, triste pela perda da filha e do marido, se esconde dentro dela mesma, deixando para Claire a responsabilidade de cuidar de Lydia, sua irmã mais nova. Até então, o relacionamento delas era maravilhoso, até Lydia contar que o cunhado tentou estuprá-la. Como Lydia estava se envolvendo em drogas ilícitas, nem a mãe, nem a irmã acreditaram nela, provocando o afastamento entre elas. Elas seguiram sozinhas, a Lydia afastou-se das drogas e teve uma filha e Claire, sempre amparada pelo Paul, seu marido que sempre estava do lado dela para apoiá-la.

Entretanto, 18 anos depois, após a morte trágica de Paul, Claire começa a descobrir algumas coisas sobre seu marido, e percebe que ele não era tão bom quanto parecia ser. Já abalada pela morte repentina do marido, a descoberta de vídeos alarmantes e alguns outros acontecimentos, acabam fazendo com que ela perceba que errou muito com sua irmã, e quando se vê sem saída, liga pra ela. E juntas, elas decidem investigar sozinhas o porque daqueles vídeos e qual seria a ligação dele com alguns crimes. A partir do momento que elas começam a futucar o vespeiro, mais perigoso ficará para as duas e para as pessoas ao redor delas. 

Sabe aquele livro que dá vontade de tacar na cara de tão bom? É este! Karin escreve de uma forma que lhe prende do começo ao fim da história. Seus flashbacks não são do tipo que confunde tanto sua mente, que você não sabe se é naquele momento, ou realmente no passado. E não há a necessidade de ficar voltando no começo do capítulo, pra saber quem é o narrador (isso acontece muito em livros do gênero de outros autores). Mas o mais importante de tudo não é isso, e sim a forma que ela conduz uma história sobre violência contra a mulher. Nos últimos meses aqui em Salvador - BA e no país inteiro, infelizmente temos casos diários de mortes de mulheres, apenas por ser mulher. Nós não podemos mais desistir de um relacionamento, lutar por ele, ou simplesmente nem começar um, pois alguns homens agem como se tivesse o direito de fazer o que quiser com o nosso corpo. E ler um livro que fala disso de forma tão real, é perceber que isso acontece em todos os lugares do mundo. Ainda que tenhamos conquistado diversos direitos durante os últimos cem anos, ainda nos sentimos presas. 

Ver que se uma mulher que usa drogas, e acusar alguém de a ter violentado, sua fala será anulada por ser viciada (vide o caso do estupro coletivo) e foi justamente o que aconteceu aqui. A irmã e a própria mãe poderiam ter sido responsáveis diretas caso algo ainda mais grave ocorresse. Precisamos parar de culpabilizar a vítima, seja ela quem for. A vítima não tem culpa do ato do agressor em nenhuma hipótese. Mas ainda assim, Lydia encontrou um homem de verdade, que lhe cedeu seu ombro amigo e sua mão para levantá-la. Ela largou o vício e se reergueu, mesmo com mágoas e marcas deixadas por esta ocasião. 

Já a Claire que teve que se tornar adulta antes da hora e por isso, viu no Paul um momento de calmaria, e a tranquilidade de não precisar mais tomar conta de ninguém. Depois destes anos que passaram, ela teve problemas com a justiça e foi infiel no relacionamento, porém sempre voltava para vida calma e cheia de luxo. Mas durante a narrativa fui percebendo a força que a personagem possuia e como ela era determinada.

Não menos importante, o terceiro narrador do livro, permite que conheçamos um pouco mais da história da Julia e sobre sua busca incansável pela filha. Sam Carroll nos mostra como é forte o amor de um pai para a filha, e como é difícil não saber onde está sua filha. Perder um filho é devastador, mas acho que não ter ideia de onde ele esteja, deve ser de enlouquecer o ser humano. Mas o que mais me marcou é de como ele realmente estava buscando informações, ele anotava completamente tudo, e logo no início do livro, já sabíamos que ele descobriu o que houve com sua filha. 

Depois de ler Flores Partidas, corri para ler Esposa Perfeita, que foi o outro livro que recebi da editora em um kit. Me apaixonei pela escrita dela, e ouso dizer que ela acabou se tornando uma das minhas autoras preferidas do gênero. Ela conseguiu me deixar presa página após página, e com sabor de quero mais, mesmo com um livro com um tema tão pesado. Recomendo demais a leitura, inclusive para quem nunca leu nada do gênero. 

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